sexta-feira, 25 de maio de 2012


Vago

Mentiras assim, como essa eu já vi
São promessas com o que há de ruim
Um placebo com veneno
Um abraço no vento

A mensagem “eu te amo”, por engano
Pulsa a dor agora
Toda vez que diz a verdade é profana
Toda vez que vem à minha cidade é por outro fulano

Erga a mão pesada e faça teu papel
Machuque com a sua ausência
Vá embora e deixe comigo o fel
Do teu presente de grego
Sobra o meu sentimento vago como céu  

Marcos Alexandre 

The Editors - In this Light and on this Evening

 


terça-feira, 8 de maio de 2012

O Enterro do Chokito


Após muito tempo sem postar aqui, venho com uma história real de amor, trapalhadas, lençol, enterro e amizade.

* * *


Há algumas semanas atrás aconteceu algo muito chato para a vida... A morte.  E foi mais ou menos assim que aconteceu:

- Alô!
- Markin?!
- Fala Waderson! Beleza?
- Não.
- Ueh, o que houve?
- O Chokito acabou de morrer.
- Mas ele estava vivo ontem! (Eu queria ter dito que o vi ontem. Basta estar vivo, né?!)
- Me ajuda a levá-lo pra algum lugar?
- Claro, passa aqui...


Eu estava ao lado da Lidia e do namorado dela, o Cake (o apelido dele se escreve diferente, mas eu gosto dessa grafia).  Avisei aos dois que o Chokito havia morrido e que iria ajudar o Waderson.  Eles nunca tinham ouvido falar naquele Chokito, enxerguei duas interrogações gigantes em suas testas.  Expliquei que a Nestlé não tinha nada a ver com aquilo.  Era o cachorro de estimação do nosso amigo, um Chow chow lindo, da língua azul (já tinha a língua azul, bem antes de morrer).



Logo chega o Waderson com aquele semblante de olhar perdido, dizendo que seu filho e esposa estavam chorando em casa.  Perguntei-lhe onde estava nosso amigo que partiu e ele respondeu seco, “no porta-malas”.  Precisávamos de pá e enxada, fomos à casa de outro amigo, o Glauber. Chegando lá encontramos quase todos da família em casa. Era perto da hora do almoço. Preciso ressaltar que o sol estava com toda vontade de nos torrar e o céu era seu comparsa - não havia nuvens sob nossas cabeças.  Peguei as ferramentas com família do Glauber, que numa curiosidade impar, quiseram (todos) ver o “Chokito embalado” num lençol, dentro do porta-malas. 

Partimos rumo ao cerrado! Ao se aproximar do meio dia, o calor ia ficando mais insuportável. Quando dei a idéia de adentrarmos o cerrado, o Waderson só então, nos avisa que estava com a gasolina na reserva e que seu carro estava com problemas de mecânica. Agora corria o risco dos cinco, eu, Lídia, Cake, Waderson e nosso querido Chokito de ficarmos empenhados no meio do mato.  Chokito não tinha pressa, pois lá ia ficar. 

Descemos do carro e começamos a cavar! Lidia numa prestatividade dispensável ia cavando de forma peculiar. Enquanto revezávamos a escavação, o buraco ia aumentando como deveria ser e o calor o acompanhava. Percebi que a escavação da Lídia era exótica por demais, pedi ao Cake que distraísse sua namorada. A real era, “tire ela daqui!”.  Prestativa como nunca, não quis dar ouvidos e continuou. Olhei para trás enquanto cavava, vi que a terra que retirávamos do buraco estava toda espalhada.  Quase não acreditei. A Lidia devia estar com vontade de fazer companhia ao Chokito! Foi ai que ela pergunta pelo seu celular, “alguém viu meu celular?”.  Fomos ao carro e não achamos, voltamos e liguei para o aparelho dela. O som vem dentro da terra espalhada em volta do buraco.  Não tivemos alternativa, a não ser ajoelhar e cavar com as mãos.  Ah, o sol... Enquanto isso “Chokito derretia embalado”, dentro do porta-malas. Encontramos o aparelho! Agora é voltar ao objetivo, dar moradia definitiva para Chokito! 
 
Eu e Waderson ficamos com a função de tirá-lo daquele aperto para enfim, dar-lhe outro. Notei que o lençol que cobria Chokito, era novo e bonito. Waderson fez menção de retirar o lençol. Acredito que no calor da comoção, pegou o melhor lençol para cobrir seu ente querido. Eu discordei, "vamos enterrá-lo com lençol." Percebi que certo dilema passará pela cabeça dele. O lençol era bonito, mas usá-lo outra vez seria estranho e enterrar o Chokito com ele, também.  Enfim, deitamos o companheiro do Waderson, de tantas alegrias puras, naquele buraco. Recomeçamos o contato com a terra espalhada, juntando-a em cima de Chokito, a fim de cobri-lo.  

  
Nesse momento percebemos que o buraco não era tão fundo assim ou a terra espalhada havia causado isso. Uma ponta do lençol com parte de Chokito ficou à mostra.  Diante de tantas trapalhadas sorrimos e agora era a vez do silêncio. Um último adeus a quem só fez a família de meu amigo sorrir, deixando o choro para o único momento trágico, sua partida.  Fora isso, Chokito fez rir até a despedida final. Amizade é isso. 


Marcos Alexandre


 A música que escolhi, “The Winners is” é da trilha sonora do filme “Little Miss Sunshine”, para quem assistiu vai entender algumas ligações. (risos)